"Senhor, fazei-me instrumento de Vossa Paz"
São Francisco de Assis

segunda-feira, 30 de maio de 2011

ORAÇÕES A NOSSA SENHORA

Orações
1. Saudação à Mãe de Deus
Salve, ó Senhora santa, Rainha santíssima,
Mãe de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita igreja,
eleita pelo santíssimo Pai celestial,
que vos consagrou por seu santíssimo
e dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito!
Em vós residiu e reside toda a plenitude
da graça e todo o bem!
Salve, ó palácio do Senhor! Salve,
ó tabernáculo do Senhor!
Salve, ó morada do Senhor!
Salve, ó manto do Senhor!
Salve, ó serva do Senhor!
Salve, ó Mãe do Senhor,
e salve vós todas, ó santas virtudes
derramadas, pela graça e iluminação
do Espírito Santo,
nos corações dos fiéis
transformando-os de infiéis
em servos fiéis de Deus!

2. Oração a Nossa Senhora
1 - Ó Senhora, Mãe do belo amor e da santa esperança,
instruí-nos na prática das boas obras.
2 - Ao vosso patrocínio recorremos, não desprezeis
as nossas súplicas e amparai-nos em perigos.
3 - Afastai-nos, ó mãe, de todo contágio do mal,
para que irradiemos a vossa pureza.
4 - Sejamos generosos na doação e fervorosos na oração.
Rogai por nós, santa Mãe de Deus.

3. Saudação à Virgem
Ó Maria, Virgem Santíssima,
não há outra semelhante,
nascida neste mundo,
entre as mulheres;
filha e serva do Rei altíssimo,
o Pai celeste; mãe de Jesus Cristo Nosso Senhor;
esposa do Espírito Santo.

4.Salve Regina
Salve Regina, Mater misericordiae,
vita, dulcedo et spes nostra, salve.
Ad te clamamus, exsules, filii Hevae.
Ad te suspiramus, gementes et flentes,
in hac lacrimarum valle.
Eia ergo, advocata nostra,
illos tuos misericordes óculos ad nos converte.
Et Jesum, benedictum fructum ventris tui,
nobis post hoc exsilium ostende.
O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria.

5. Oração da Noite
Já chegou ao fim do dia,
a noite à terra desce;
nos passos de Maria
a alma humana cresce.
Senhora, Mãe do Céu,
salvai-nos da desgraça.
Os sonhos vãos se apagam
à luz de vossa graça.
Ao vir o fim do dia,
eis-nos já preparados:
no mesmo amor unidos,
a mesma graça ornados.
Estes vossos filhos
de Cristo os irmãos,
que tanto vos amam,
por serem cristãos.
Ó Rainha dos Santos,
guiai-nos pela mão,
para que nesta noite
nos venha a Salvação.
Felizes repousemos
do cansaço e da dor;
e amanhã levantemos
com renovado amor.

6. Magnificat
Minha alma glorifica ao Senhor
e meu espírito exulta de alegria
em Deus, meu Salvador,
porque Ele fixou os olhos na
humildade de sua serva.
De hoje em diante todas as
gerações me chamarão de
bem-aventurada,
porque grandes coisas fez em
mim o Todo-Poderoso.
Santo é seu nome.
E sua misericórdia se estende
de geração em geração sobre
todos os que o temem.
Manifestou o poder de seu
braço e dissipou
os soberbos de coração.
Derrubou do trono os
Poderosos, e elevou os humildes
Encheu de bens os famintos
e despediu de mãos vazias os ricos.
Trouxe a salvação a Israel
Seu servo lembrado de sua misericórdia.
Assim como prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência para sempre!
7. Oração de Maio

Por Frei Neylor Tonin, ofm
Senhor Deus, grande e bom, nós vos louvamos por Maria, nossa mãe, e por todas as mães e vos agradecemos porque deixastes no coração delas a batida do vosso próprio coração. Quando nos amam, sentimo-nos amados por vós que sois a fonte de todo amor. Gostaríamos tanto, Senhor Deus, que nossas mães fossem felizes, muito felizes. Oxalá nenhum filho magoe o coração de sua mãe, mas o beije agradecido e o proteja com todo o afeto. Até vós quisestes que Jesus tivesse uma mãe que o estreitasse nos braços. Prometemo-vos nunca abandonar nossas mães, porque sabemos que elas, como Maria, nunca nos abandonarão. Pedimos para elas a vossa bênção e a elas que nos abençoem. Amém.


domingo, 29 de maio de 2011

Maria Santíssima na piedade de São Francisco-Por Frei Constantino Koser, OFM

O intenso amor a Cristo-Homem, qual o praticara São Francisco e qual o legara à sua Ordem, não podia deixar de atingir Maria Santíssima. Já as razões do coração católico de São Francisco e seu cavaleirismo o levavam a amor aceso da virgem Mãe de Deus. "Seu amor para com a bem-aventurada Mãe de Cristo, a puríssima Virgem Maria, era de fato indizível, pois nascia em seu coração quando considerava que ela havia transformado em irmão nosso o próprio Rei e Senhor da glória e que por ela havíamos merecido alcançar a divina misericórdia. Em Maria, depois de Cristo, punha toda a sua confiança. Por isto a escolheu para advogada sua e de seus religiosos, e em sua honra jejuava devotamente desde a festa de São Pedro e São Paulo até à festa da Assunção".
São Francisco não é apenas um santo muito devoto, muito afeiçoado à Mãe de Deus, mas é um dos santos em que a piedade mariana aparece numa floração original e singular, sem contudo se afastar, por pouco que seja, das linhas marcadas pela Igreja. A Idade Média, da qual é Filho, teve uma piedade mariana cheia dos mais suaves encantos, porque fundada toda sobre a nobreza de sentimentos e a cortesia de atitudes de cavaleiros. Os cavaleiros se consideravam paladinos da honra e da glória de Maria Santíssima.
São Francisco, que em sua concepção específica da vida religiosa partia deste ideal e que considerava os seus como "cavaleiros da Távola Redonda", cultivou com esmero e com intensidade toda sua o serviço da Virgem Santíssima nos moldes do ideal cavaleiroso, condicionado pelo seu conceito e pela sua prática da pobreza. Nada mais comovente e delicado na vida deste Santo, que a forte e ao mesmo tempo meiga e suave devoção à Mãe de Deus. Derivada do amor de Deus e de Cristo, orientada pelo Evangelho e vazada nos moldes e costumes do cavaleirismo medieval, transposto a uma sobrenaturalidade, pureza e força singularíssima, esta piedade mariana do Santo fundador é parte integrante do que legou à sua Ordem e aí foi cultivada com esmero.
São Francisco fez dos cavaleiros de "Madonna Povertá" os paladinos dos privilégios e da honra da Mãe de Cristo. As fontes da vida e da espiritualidade de São Francisco são unânimes em narrar quanto a igrejinha da Porciúncula minúscula, pobre e abandonada na várzea ao pé de Assis, igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos - atraía as atenções de São Francisco e prendia a sua dedicação. Atraiu as suas atenções, quando estava para cumprir, segundo a interpretação que lhe dava, a ordem de Cristo de reconstruir a Igreja Santa. O edifício ameaçava ruínas. São Francisco pôs mãos à obra e em pouco tempo, com pedras e cal de "Madonna Povertá", restituiu a estrutura da capela: "Vendo-a (a capela) São Francisco em tão ruinoso estado, e movido por seu indizível e filial afeto da soberana Rainha do universo, se deteve ali com o propósito de fazer quanto fosse possível para a sua restauração... Fixou neste lugar a sua morada, movido a isto pela sua reverência aos santos anjos, e muito mais pelo entranhado amor da Mãe Bendita de Cristo".
Depois de assinalado por Cristo com os sinais gloriosos, mas dolorosos da Paixão, São Francisco voltou à Porciúncula. De lá partia novamente para pregar, mas voltava sempre. Os irmãos, apreensivos pela sua saúde combalida, obrigaram-no a permitir o levassem aonde melhor podiam atender ao tratamento reclamado pelo eu estado. Quando, porém, ia findar o tempo que Deus lhe concedera, e sabia quando findaria, São Francisco pediu que o levassem novamente à capelinha da Virgem dos Anjos. À sombra da igrejinha entregou sua alma a Deus no trânsito incomparável que foi o seu. Maria Santíssima, tão agraciada por Deus, possui encantos mil e à semelhança do seu Filho Divino é tão rica que um coração humano não pode venerar de uma só vez todas as prerrogativas de que foi cumulada pela generosidade divina.
Há desta forma a possibilidade das mais variadas devoções da Virgem, há a possibilidade de cada qual venerá-la e amá-la sob o aspecto que mais o comove, que mais o inflama.

(Extraído do Livro "O Pensamento Franciscano", Editora Vozes)

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/ 

Devoção franciscana para com a Virgem

Em sua "devoção" Francisco une Maria a Jesus, seu filho.
69. - A bem-aventurada Virgem Maria é tão honrada - como é justo - porque trouxe Cristo em seu seio abençoado. (III Carta, 21)
70. - O Verbo do Pai, tão digno, tão santo e glorioso, de quem o Pai anunciou a chegada, por seu Santo arcanjo Gabriel, à santa e gloriosa Virgem Maria, do seio da qual o Verbo recebeu verdadeiramente a carne de nossa humanidade frágil. (1 Carta, 4)
Ela foi escolhida e consagrada por Deus
71. - SALVE, Mãe de Deus, ó Maria.
Escolhida pelo santíssimo Pai do céu, o qual
vos consagrou com seu dileto e santíssimo
Filho e o Espírito Santo Consolador...
Salve, Palácio de Deus!
Salve, Tabernáculo de Deus!
Salve, Casa de Deus!
Salve, Traje de Deus!
Salve, Serva de Deus
Salve, Mãe de Deus!
(Saudação à SS. Virgem, 2,4,5)
Ela recebeu a graça e a santidade em plenitude.
72. - Ó Maria, Virgem Santíssima, não há outra semelhante, nascida neste mundo, entre as mulheres; filha e serva do Rei altíssimo, o Pai celeste; mãe de Jesus Cristo, nosso Senhor; esposa do Espírito Santo. (Of. da Paixão, 12)
73. - Salve, Senhora Santa,
Rainha Santíssima, Mãe de Deus, ó Maria,
que sois a Virgem perpétua...
Vós em quem houve e permanece
Toda a plenitude de graça e todo bem.
(Saudação à SS. Virgem, 1,3)
Ela é nossa advogada junto de Deus.
74. - Francisco amava a Mãe do Senhor Jesus com um amor indizível, pois foi ela quem nos deu como irmão o Senhor de majestade e por ela obtivemos misericórdia.
(Boav., IX, 3)
75. - "Em Rivo Torto não temos nenhuma igreja em que possamos rezar o Ofício e louvar a Deus e sua Mãe Santíssima, a quem sempre pedimos que seja nossa advogada". (Fioretti, ad. II)
76. - O homem de Deus tinha uma devoção fervente por Maria, Senhora do Mundo...
Fixou-se em Porciúncula por causa de seu amor pela Mãe de Cristo. Amou sempre este lugar mais do que qualquer outro no mundo. . . ; foi este lugar que, ao morrer, confiou aos irmãos como particularmente caro à Virgem... Foi neste lugar que Francisco, impelido por Deus que lhe revelou sua vontade, fundou sua Ordem dos Frades Menores. (Boav., II, 8)
77. - Não convinha que o nascimento de uma Ordem de virgens... se desse num outro lugar que não num templo consagrado à primeira, e à mais digna de todas as mulheres, a única que é virgem e mãe ao mesmo tempo, no mesmo lugar em que a nova cavalaria dos pobres começa a exercitar-se gloriosamente sob a ordem de Francisco. Desta maneira, a Mãe de misericórdia mostrava claramente a todos que era ela que, em seu santuário, dava origem à primeira como à segunda Ordem.
(Vida de Clara, 8)
78. - Ordeno a todos os meus irmãos, quaisquer que sejam, aos atuais e aos vindouros, que a honrem e glorifiquem sempre, de todo jeito e de toda maneira que for possível, e de tê-la em muito grande devoção e veneração. Quero ainda que sejamos sempre seus fiéis servos.
(Fioretti, ad. II)
79. - Inventava louvores para ela, fazia chegar suas orações até ela, consagrava-lhe os impulsos de seu coração: nenhuma língua humana saberia dizer quantas vezes e com que fervor.
(II Celano, 198)
Imita-lhe as virtudes
80. - Pouco antes de morrer escreveu-nos dos, mais uma vez sua última vontade; "Eu, o pequeno irmão Francisco, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor
Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe, e quero perseverar neste caminho até a morte.
(R. de Clara, VI)
81. - E quando for necessário, que vão pedir esmola... "pois pobre e peregrino, viveu de esmolas, Ele, e a bem-aventurada Virgem, e seus discípulos". (1 Regra, IX, 6)
82. - "Se não puderes atender de outro modo as necessidades dos irmãos, despoja o altar da Virgem e tira-lhe os enfeites. Crê-me: ela ficará muito mais contente em ver o Evangelho de seu Filho observado e seu altar despojado, do que seu altar enfeitado e seu Filho desprezado".
(II Celano, 67)
Recorre à proteção dela
83. Francisco permaneceu algum tempo na dela igreja da Virgem Mãe de Deus, pedindo-lhe, com súplicas incessantes e contínuas, a graça de tornar-se o protegido dela.
(Boav., III, 1)
84. - Depois de Cristo colocava sua confiança em Maria e a escolheu como padroeira sua
e dos seus.(Boav., IX, 3)
85. - Francisco, estigmatizado, despediu-se do Alverne dizendo: "adeus, Santa Maria dos Anjos do Alverne: - eu te recomendo estes meus filhos, ó Mãe do Verbo eterno".
(Fioretti, ad. XX)

PARA REFLETIR

Escutar tornou-se uma verdadeira arte neste tempo de barulho e pouca instrospecção.Escutar é estar atento às várias manifestações de Deus na natureza, na vida, no tempo e na história. A arte de escutar está em comunhão com a capacidade de ver, perceber e contemplar. Somente quem educa o olhar para ver será capaz de escutar com qualidade, pois a escuta requer treinamento, meditação, oração e humildade.

Aproveite bem a vida que Deus te concede. Você e eu somos todos "viajantes" nesta vida frágil, porém bela e divivna. Viajemos, pois, juntos amigo! Façamos da vida uma magia, um momento na eternidade onde tudo passa a ganhar um novo sentido. Aprendamos a "escutar" Deus através da contemplação. Aprendamos a escutar o clamor da vida em atitudes amorosas com as pessoas que fazem a vida acontecer diante de nós...
Frei Paulo Sérgio de Souza, OFM

"A arte de escutar é como uma luz que dissipa a escuridão da ignorância".(Dalai Lama)

FONTE: http://www.franciscanos.org.br/ 


  

segunda-feira, 2 de maio de 2011

FREI BRUNO: TRAÇOS MARCANTES DO GENUÍNO FRADE MENOR


Por Frei Elzeário Schmitt

Poucos são, de certo, os confrades da época que não chegaram a conhecer Frei Bruno. Quem o conheceu concordará comigo que sua personalidade foi uma reprodução fidelíssima das páginas mais inspiradoras dos "Fioretti". Simples, pobre, humilde, zeloso, e caridoso em grau impressionante, retratando de maneira fiel os traços mais marcantes de genuíno frade menor segundo o modo de São Francisco. Falando em Frei Bruno, não cabem palavras difíceis. Nem pretendo expor todas as minúcias tão simpáticas quão edificantes de sua abençoada carreira. Dou, apenas, em rápidos e leves traços, os dados importantes do seu "curriculum vitae" (fornecidos pelo Provincialado), para logo em seguida condensar a impressão que ele nos deixou nestes últimos anos de íntimo convívio na residência dos frades de Joaçaba.

O Noviciado no navio
Filho de Humberto Linden e Cecília Goelden, nasceu Humberto Linden Jr. (mais tarde Frei Bruno) em Duesseldorf, na Alemanha, a 8 de setembro de 1876. Com quase 18 anos de idade, ingressou no Noviciado dos Franciscanos da Saxônia, em Harreveld, na Holanda. Tomou hábito em 13 de maio de 1894. O famoso padre-mestre Frei Osmundo Laumann deixou-lhe lembrança indelével nas poucas semanas que passou debaixo de sua tutela. Nem bem chegaram ao Noviciado, foram destinados para a "Missão Brasileira", estando entre eles Frei Bruno. Trocaram o convento por um navio transatlântico que os levou à Bahia. Aportaram em Salvador aos 12 de julho de 1894. Em terras baianas, Frei Bruno completou o Noviciado, saiu-se ileso da febre amarela, estudou Filosofia e Teologia e fez profissão solene no dia 19 de maio de 1898. Em seguida, ao virar o século, foi enviado para Petrópolis, onde foi ordenado sacerdote em 10 de maio de 1901 e aprovado para a cura d'almas em fins do mesmo ano.

O jovem padre permaneceu ainda mais dois anos em Petrópolis. Em 1904 foi transferido para Gaspar, primeiro como superior e pároco até 1906, continuando no mesmo lugar mais três anos como coadjutor. A próxima transferência levou-o a São José, na modesta função de coadjutor e bibliotecário; mais tarde, isto é, desde 1914, como vigário da paróquia. Em 1917, tocou-lhe a incumbência de superior e vigário na residência riograndense de Não-Me-Toque.

Entre 1926 e 1945 teve uma prolongada estadia em Rodeio, convento do Noviciado, onde quase todo o tempo era guardião e vigário, enquanto o permitiam as constituições e intercalados os devidos interstícios de vacância de cargos. Durante quase 20 anos edificou sem cessar o povo de fora e os religiosos de dentro com seu exemplo de autêntico frade menor e arauto de Cristo. Este período mereceria um artigo à parte de quem com ele conviveu por mais tempo. Basta dizer aqui que dificilmente as instruções do Pe. Mestre aos noviços encontrariam ilustração concreta e exemplo vivo mais imponente que na pessoa do santo Frei Bruno.

A última morada terrestre
O Capítulo Provincial de 1945 destacou-o de Rodeio para Esteves Júnior. Lá permaneceu só poucos meses, pois no fim do mesmo ano foi designado superior e pároco de Xaxim. Completou dois triênios à frente da casa, continuando no mesmo lugar como coadjutor até 1956. Octogenário, acabado e encarquilhado foi parar em Joaçaba, sua última morada terrestre.
Depois do Capítulo Provincial de 1956, a conselho do ministro provincial, Frei Bruno foi para Luzerna a fim de passar uma temporada de repouso, ou, como ele mesmo entendia, preparar-se para a morte. Não era para menos. A velhice, as forças gastas e o corpo alquebrado pressagiaram o fim da jornada. Duas hérnias e, por conseguinte, duas cintas davam-lhe bastante que fazer e sofrer. Todavia pensava também em trabalhar, em continuar suas caminhadas para espalhar o bem a todos. Em pouco tempo escasseou o serviço em Luzerna e, a pedido dos confrades, foi passar uns dias em Joaçaba, onde descobriu novas oportunidades de apostolado. Voltou a Luzerna sem dizer nada, mas quatro dias depois apareceu outra vez em Joaçaba, disposto a ficar. Era o dia 2 de fevereiro de 1956.

A volta de Frei Bruno foi naturalmente uma grande alegria para nossa pequena comunidade. Todos nós apreciávamos a graça de ter um santo em casa, e um santo que trabalha sem dar trabalho. Os últimos quatro anos em Joaçaba não foram mais do que a continuação de um apostolado que Frei Bruno vinha praticando há muitos anos.

Quem conheceu Frei Bruno sabe de sua predileção irresistível por longas e continuadas caminhadas "pedibus apostolorum". De fato, de manhã à noite, mantinha-se em movimento. Brincando com ele, chamamo-lo muitas vezes de cigano sem paradeiro nem sossego. Caminhava, visitando as famílias, benzendo as casas, descobrindo uniões a legalizar, consertando lares em desarmonia, visitando os doentes, sempre no mesmo ritmo incansável, morro-acima e morro-abaixo. Subindo pelas ladeiras, costumava andar em ziguezague a fim de aliviar o velho coração.

Nos primeiros meses ainda visitava as capelas de Santa Helena e de Nossa Senhora da Saúde, capelas por onde passa a linha de ônibus. Mais tarde, notando a nossa preocupação, desistiu espontaneamente. Em seguida ocupou o cargo de capelão do Ginásio Frei Rogério, a cargo dos Irmãos Maristas. Atendia às confissões dos irmãos e juvenistas. Terminada a santa missa, Frei Bruno dava as suas voltas, chegando à casa um pouco antes do meio-dia, quase sempre a pé, empunhando o guarda-chuva, seu fiel e inseparável companheiro. Depois do almoço "descansava" na igreja, apoiando a cabeça na mesa do altar de Nossa Senhora, rezando, ou, então na salinha da portaria, onde atendia às pessoas que o procuravam ou que ele havia chamado.

Interessou-se pelos detidos. "Pe. Praeses, será que posso pedir dinheiro a algumas pessoas para comprar uma bola"? - "Para quê"? - "Para os presos". E lá vai ele: pede o dinheiro, compra a bola e a leva à cadeia, arrancando ainda do delegado a licença para os coitados jogarem futebol no pátio do presídio. "Pe. Praeses, posso tirar tintas para os presos pintarem a cadeia que está imunda"? "Pe. Praeses, na cadeia não tem luz. Posso levar uns maços de velas"?
Também tinha sempre em volta de si um grupo de crianças pobres, às quais dava a doutrina e às vezes também pão e outros petiscos que depois faziam falta à mesa.
Frei Bruno cuidava da água benta e conservava uma talha sempre cheia na igreja, ao lado do batistério. Aos sábados, vindo os pobres para receber os mantimentos, iam beber a água benta de Frei Bruno que não gostava desse modo de matar a sede. Porém, dizia: "Paciência! As criancinhas, coitadas, estão com sede".

Frei Bruno, pedestre convicto, não se entusiasmava pelos meios de transporte modernos. "Frei Bruno, não gostaria de dar um passeio de avião"? - Não, não, não! Imagine o que vai acontecer se faltar um parafuso"!

Os dias iam passando. O Ginásio Frei Rogério recebeu novo capelão, e Frei Bruno foi aposentado. Estava na hora. Pois caminhar se lhe tornava mais custoso e também a vista ia enfraquecendo casa vez mais. A partir de 1958, Frei Bruno celebrava sua santa missa às 5h30 no altar de Nossa Senhora. Aí, ele dava a comunhão às pessoas que madrugavam. Após a missa, no confessionário, era sempre procurado. O confessionário de Frei Bruno era uma armação muito simples com grade, de um lado a cadeira de confessor, do outro lado o banquinho de ajoelhar para o penitente. Terminando com as confissões, Frei Bruno costumava ajoelhar-se naquele banquinho.

Volumosa era a correspondência que Frei Bruno recebia. Uns pediam uma bênção, outros a saúde para um doente, ouros ainda sorte nos negócios ou bênção contra ratos no paiol ou contra os bichos na roça. A princípio, Frei Bruno respondia religiosamente a todas estas cartas, mas à medida que se lhe ia enfraquecendo a vista, ia desistindo da correspondência.

Em 3 de julho de 1959 celebrou pela última vez a santa missa. A partir daquele dia comungava às 5h30, e depois ia ao confessionário. Já não saia mais à rua, mas continuava as audiências na salinha da portaria que, por brincadeira, apelidávamos de "conclave".

Em 25 de outubro, na companhia de Frei Serafim, Frei Bruno deu o último passeio a Luzerna, a fim de tratar de assuntos da Pia União de Missas de Ingolstadt. Tanto em Luzerna como em Joaçaba, Frei Bruno exercia um belo apostolado em prol da dita União de Missas.

Em 20 de novembro, voltando da cidade, encontrei Frei Bruno na sala da portaria, desmaiado, pálido e frio. Eu estava certo de que a morte afinal viera buscá-lo. Levamo-lo à cela, e deitamo-lo na cama. Imediatamente veio o médico prestando a assistência indicada. Já ao meio-dia, nosso doente estava de pé, meio tonto ainda, mas animado. A partir daquela dia, Frei Bruno andava muito preocupado com a morte. Em curto prazo, por duas vezes recebeu a Extrema-Unção.

Entrando em 1960, ouvíamos diariamente a mesma ladainha: "Hoje vou morrer". Chamava o viático sua comunhão diária. Até deixava de se alimentar convenientemente e foi preciso, em nome da santa obediência, obrigá-lo a comer. Aí se normalizou a situação, pois Frei Bruno dizia sempre: "Quem não obedece aos superiores vai para o inferno"! A obediência cega do santo confrade deu também fim a uns tantos escrúpulos e complexos de consciência.

As sandálias lhe ficavam pesando muito e Frei Bruno calçou uns chinelos leves e caminhava que nem velho colono italiano. Achou pesado o rosário das sete alegrias e pediu licença para usar um rosário pequeno no cordão do hábito. Entretanto dias depois apareceu outra vez com a grande coroa, dizendo: "Acho que é uma ofensa a Nossa Senhora andar sem o rosário". No último mês teve que usar bengala para caminhar. Até o último dia atendeu as confissões e deu audiência na sua salinha.

A morte de Frei Bruno paralisa a cidade
No dia 24, voltando do colégio das Irmãs, não encontrando Frei Bruno nem na sacristia, nem na portaria, nem no refeitório, foi ao quarto dele onde o encontrei morto. Segundo o médico, que veio depois, a morte devia ter ocorrido umas duas horas antes.

Rapidamente se espalhou a notícia do falecimento. Escusado dizer que a consternação foi geral. As duas emissoras de Joaçaba, a todo o momento, repetiam a triste nova, dando também notícias biográficas acerca do confrade. Ao meio-dia, o corpo foi colocado na igreja e velado sem interrupção até o dia seguinte. Veio muita gente, e houve muitas lágrimas.

Dia 26 de fevereiro, o comércio e a indústria fecharam em sinal de luto. Às 8 horas houve missa de corpo presente.

A espaçosa matriz mostrou-se pequena para acolher tanta gente. Vieram para as exéquias os confrades de Luzerna, Jaborá, e Xaxim. No enterro contaram-se 120 carros. Foi o maior enterro que já houve em Joaçaba. No dia seguinte, em sessão da Câmara Municipal, os vereadores lançaram em ata um voto unânime de pesar pela morte de Frei Bruno e, em sinal de luto, suspenderam em seguida os trabalhos.

Os motoristas de Joaçaba renderam homenagem particular à memória de Frei Bruno, organizando um grande cortejo, rumando, de noite, à matriz onde todos, ajoelhados na escadaria da Igreja rezaram pela alma de Frei Bruno, e em seguida prosseguiram na sua peregrinação. Já se preparava campanha pela praça e monumento de Frei Bruno em Joaçaba.


COMO SER CRISTÃO HOJE, SEGUINDO OS PASSOS DE FREI BRUNO?

Estamos no século XXI e deparamo-nos com muitos desafios e contradições que exigem dos cristãos uma atuação mais crítica, consciente e eficaz. Frei Bruno antecipou-nos e, com suas atitudes, ensinou-nos a como ser cristão neste século. Esse ensinamento ele transmitiu-nos já em 1958! Frei Bruno percebeu que a exploração da mão-de-obra remunerada, com baixos salários, iria gerar muita exclusão. Antecipando-se, ele agiu como deveriam agir todos os bons cristãos: organizou os pobres para se fortalecerem fazendo vencer a justiça de Deus na relação entre patrões e empregados. Um exemplo disso foi a corajosa postura de Frei Bruno frente à exploração das empregadas domésticas. Não pensou duas vezes: organizou a ASSOCIAÇÃO DAS EMPREGADAS DOMÉSTICAS de Joaçaba, SC. É bom lembrar que isto aconteceu em 1958, quando nem se imaginava ainda surgir no Brasil a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, que despertou e fez multiplicar associações de todos os tipos de excluídos, a partir da ação e da reflexão dos cristãos católicos. Neste aspecto evangelizador, ele é apresentado como um modelo de cristão para os nossos dias.

 Frei Bruno teve naquele tempo, quando circulavam poucos textos com leituras criticas da sociedade da época, uma brilhante atuação. Os textos com leituras críticas da exploração do homem pelo homem e da organização dos sistemas políticos e sociais de hoje estão amplamente à disposição dos cristãos. O desafio dos cristãos no mundo é hoje muito maior do que no tempo de Frei Bruno, exigindo cristãos hábeis. O sistema de alienação hoje é muito forte. Dentro de quase todas as instituições, principalmente das empresas, a postura de omissão e de acomodação dos cristãos é preocupante. Os cristãos facilmente se submetem, ficam omissos para se garantirem no emprego, fechando os olhos às injustiças. Por isso, dar testemunho cristão hoje supõe muita fé, maturidade e visão ampla.  

Há uma campanha de lavagem cerebral para manipular as mentes e conseguir que todos se convençam de que tudo está bem, que não há alternativa e que são muito felizes por estarem empregados. A mídia, as instituições e o ambiente global da sociedade: tudo serve para desencorajar qualquer tentativa de atuação mais corajosa. Dessa forma, somente personalidades fortes, com convicção muito madura, poderão doar seu tempo à organização do pensamento crítico e na formação de associações de inspirações cristãs, corajosas e conscientes dos desafios do século XXI. A maioria dos cristãos, por terem recebido uma fraca formação cristã na catequese e nas missas, ficará calada. A pressão psicológica em favor da omissão é forte. Na prática e de fato, a maioria cede e perde sua própria convicção e não faz investimentos espirituais em si que gerem a força da esperança. Assim, recorremos ao nosso Frei Bruno; que ele inspire e ajude seus devotos a mudarem de atitude! Além de buscarmos por milagres para resolver problemas pessoais, devemos também dirigir nossas orações e pedidos, para a solução dos problemas sociais.

Hoje em dia, existem milhares de associações, sindicatos e organizações que dizem representar os mais pobres. No entanto, as mesmas estão entregues às mãos de acomodados e omissos, que não respiram o mesmo sonho por justiça social que animou Frei Bruno a constituir uma das primeiras Associações de Empregadas Domésticas do Brasil. Muitos desses "Presidentes" de Associações são católicos. No entanto, nos perguntamos: são católicos conscientes ou de formação ingênua? Nessas Associações há necessidade de atuação de pessoas que se alimentem do idealismo, de doação de suas próprias vidas em prol de projetos concretos, transformadores. Não podem se deixar levar pela corrupção que assola grande parte da sociedade, das Associações, dos Sindicatos e principalmente dos funcionários públicos. O que é mais preocupante, do maior ao menor, segundo o nível hierárquico, com poucas exceções. O episódio dos "cartões corporativos" "deixando a nu" muitas pessoas "tidas como honestas", inclusive muitos gestores de Universidades Públicas, os forjadores do Brasil de amanhã, deixa-nos atordoados. Tudo isso faz-nos clamar fortemente a Frei Bruno que interceda junto a Deus por nós e que ilumine todos os Agentes de Pastoral de todos os níveis, dando-nos luzes frente aos desafios da Evangelização no século XXI.

Há necessidade de que os católicos se manifestem como os servidores do Reino mais convictos, mais dedicados e mais honestos. Grande parte deles quer ter uma postura mais comprometida? Fomos contagiados por um estranho comodismo, quase imperdoável. Poderemos ser o sal da terra, a luz que, em todos os ambientes da sociedade, atrai os olhares e constrói o bem. Queremos essa espinhosa missão? Queremos atender aos apelos de Paulo quando na segunda Carta a Timóteo,1,8 conclama-nos: "sofre comigo pelo Evangelho..."? Ou quando Jesus, em Mateus 17,7 toca nos discípulos e diz "levantai-vos e não tenhais medo"?

Sem mística, sem fé e sem convicção é impossível agir como cristão no mundo. Rahner já dizia que no século XXI a Igreja seria mística ou não seria Igreja. Acreditamos que corremos o risco de sermos apenas um amontoado de pessoas que repetem fórmulas, "fregueses de sacramentos", sem compromisso com a realidade de Deus que reflete no mundo. A formação paroquial tradicional não basta. Por sinal, grande parte dos que vão ao culto são justamente as pessoas que vivem em um mundo paralelo ao de Deus, não querem muito compromisso. Vão só cumprir "sua obrigação". Quem exige esse tipo de obrigação? Deus? Todos os Profetas e Evangelistas afirmam que o Culto que Deus quer é a prática do Direito e da Justiça. Quem pratica o Direito e a Justiça, este sim, pode Celebrar o culto com a consciência tranqüila porque sente que está com o dever cumprido.

Que a nossa intercessão junto a Deus pelo Bem-Aventurado Frei Bruno faça-nos constituir centenas de associações, a exemplo da Associação das Empregadas Domésticas, todas a partir das angústias do povo dos dias de hoje, para tornar verdade a força de Deus em nós.

Frei David R. Santos OFM   -   Pároco de Luzerna, Santa Catarina

FONTE:
http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/freibruno_06/