"Senhor, fazei-me instrumento de Vossa Paz"
São Francisco de Assis

VIDA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS


Vida de São Francisco de Assis

SUA ORIGEM
São Francisco nasceu no ano de 1181 ou 1182, em Assis, na Itália. Ao ser batizado, ele recebeu da mãe o nome de João. Na Idade Média, o nome João ou Joana, por uma grande devoção a São João Batista, era muito popular. Havia também o costume de, às vezes, a pessoa trocar de nome e o nome de batismo ficar esquecido. Foi o que aconteceu com Francisco de Assis. Ele recebeu, no Batismo, o nome João. Porém, o seu pai, Pedro di Bernardone, por gostar muito da França, onde fazia bons negócios, comprando tecidos para vender em Assis, não estando presente na ocasião do seu Batismo, mudou o nome de João para Francisco, prevalecendo este nome. Coisa parecida aconteceu com o nome da mãe de São Francisco: nós a conhecemos pelo nome de Pica, mas é porque ela nasceu numa região da França chamada Picardia. O seu nome era Joana.

Francisco teve também um irmão, chamado Ângelo, de quem pouco se sabe.

FRANCISCO VAI À GUERRA

No ano de 1198, houve um conflito em Assis: a nobreza feudal, detentora do poder econômico e político, contra os comerciantes, classe emergente que lutava por seus direitos. O pai de Francisco fazia parte desta classe. .
O conflito foi assim: os comerciantes entraram em Assis, destruíram uma fortaleza, chamada Rocca Maggiori, símbolo do poder da nobreza feudal, e, com as pedras dela, fizeram uma muralha em torno de Assis.

Francisco certamente participou deste conflito, pois era filho de comerciante e já tinha 16 ou 17 anos. Na época, os rapazes eram considerados de maior idade aos 14 anos.

Os nobres se refugiaram em Perusa, cidade próxima de Assis. Entre as famílias nobres que para lá haviam ido, estava a de Clara, que, em 1198, tinha 4 ou 5 anos de idade. Clara ficou em Perusa até 1204.

A PERSONALIDADE DE FRANCISCO

Como vimos, Francisco participava dos eventos sociais da época. Não era alheio aos acontecimentos. De fato, participava das festas, gostava de usar roupas coloridas e alegres, era músico e poeta. Era uma espécie de "rei da juventude".

Também tinha um coração muito generoso: tratava bem os pobres e dava ricas esmolas. Tinha a coragem e a audácia do seu pai, próspero comerciante, e a fineza e cortesia da mãe, uma nobre francesa. Gostava de cantar na língua francesa, a língua do charme, na época.

Se, em 1198, os comerciantes de Assis se saíram bem no confronto com os senhores feudais e pensavam que o conflito acabara, enganavam-se. No ano de 1202, foi a vez da revanche: os comerciantes perderam a batalha, num lugar chamado Colestrada e Francisco ficou um ano preso em Perusa. Apesar disso, ele não perdeu a esportiva: sempre alegre, animava os colegas prisioneiros. Foi solto em 1203, quando o pai pagou uma fiança.

PRIMEIRO ENCONTRO COM O SENHOR

De volta a Assis, Francisco tentou retornar à vida que levara antes. Ele, que fazia parte de um grupo de jovens amigos chamado "Companhia do bastão", tentou voltar às festas, aos banquetes e a cantar pelas ruas de Assis.
Certa vez, após se banquetear com os amigos, ficou um pouco para trás, quando retornava para casa. Neste dia, o Senhor visitou o seu coração com admirável doçura. Os amigos perguntaram se ele estava pensando em se casar. Ele respondeu que sim, mas referindo-se à Dama Pobreza. A partir deste momento, começou a abandonar as coisas que antes tinha amado. Começou a dar esmolas mais abundantemente. Chamava os pobres para comer pão à sua mesa. Apesar de estar ainda "no mundo", se dedicava a dar esmolas, oferecendo até as suas roupas ricas e coloridas para os pobres. Aos poucos, Deus ia modelando o seu coração.

O ENCONTRO COM O LEPROSO

Como vimos, Francisco se dedicava a dar esmolas aos pobres. Só um pobre o assustava: o leproso. Os leprosos eram os irmãos mais pobres dentre os pobres. Tinham que viver fora dos muros da cidade. Fazia-se um ritual para eles quando eram excluídos do meio social: uma procissão, e, a partir daí, tinham que tocar uma sineta para alertar aos que se aproximavam deles. Era como "enterrar vivo". Os leprosos eram a "escória", a massa que sobrava dentro dos muros de Assis e que não podia ficar com os sãos. Um dos deveres do prefeito era mantê-los afastados dos sadios.

Francisco também tinha nojo deste tipo de pessoa. Ele lhe causava arrepio e ânsia de vômito. Porém, um dia houve uma coisa extraordinária: Francisco encontrou um leproso, andando pelas estradas fora de Assis, esporeou o cavalo para se afastar, mas, depois, caindo em si, voltou, deu-lhe esmola e um beijo. Depois disto, repetiu a obra por várias vezes.
Este acontecimento marcou tanto a vida dele que, dos muitos fatos ocorridos em sua vida, este foi o primeiro que entrou em seu Testamento, "pois o que antes era amargo se converteu em doçura da alma e do corpo".

ENCONTROS

Podemos dizer que o encontro de Francisco com o leproso foi o encontro dele com os crucificados históricos - e não imaginários - deste mundo. A partir deste encontro, ele intensificou, ainda mais, a assistência aos pobres.
Mas haveria muito mais encontros. Outro deles foi com o crucificado numa igrejinha em ruínas, cujo padroeiro era São Damião. Nela, Francisco recebeu do crucificado o mandato de restaurar a Igreja. Obediente ao mandato, Francisco pôs-se logo a trabalhar. Reconstruiu três pequenas igrejinhas abandonadas: a de São Damião, a de Santa Maria dos Anjos e a de São Pedro. Todas fora dos muros de Assis, da mesma forma que os leprosos também viviam fora dos muros. Pensando que o mandato do Senhor se referia somente à reconstrução da igreja de pedra, assim o fez.

Mas depois o Espírito Santo lhe revelou que se tratava, principalmente, da Igreja viva, formada pelas pessoas pelas quais o Senhor derramou o seu sangue. Esta revelação se deu através de um novo encontro: o do Evangelho do envio dos Apóstolos, lido em 1208, na Igreja de Santa Maria dos Anjos, na festa de São Matias, Apóstolo. Foi aí que o Senhor pedia para não levar bastão, túnica, etc. Após a explicação do sacerdote, Francisco disse com entusiasmo: "É isso que eu quero, isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer de todo o coração!" Com um novo mandato do Senhor - o de pregar o Evangelho -, vai lá Francisco, com todo o entusiasmo, e começa a reconstruir a Igreja formada por pessoas.

A PREGAÇÃO DO EVANGELHO E OS SEUS FRUTOS

São Francisco teve vários encontros em sua vida: com o leproso, com o crucificado em São Damião, com o Evangelho na Porciúncula. Também recebeu alguns mandatos do Senhor: o de restaurar a Igreja e o de pregar o Evangelho. Podemos dizer: restaurar a Igreja com a pregação do Evangelho.

Obediente ao mandato do Senhor de pregar o Evangelho, Francisco, entusiasmado, vai ao encontro dos homens. Pregava a penitência com grande fervor de espírito e com muita alegria. Sua pregação era em linguagem simples e com nobreza de coração. Palavra penetrante, que edificava os ouvintes. Na Regra dos Irmãos Menores, ele alerta: "nos sermões que fazem, seja a sua linguagem ponderada e piedosa, para a utilidade e edificação do povo, ao qual anunciem os vícios e as virtudes, o castigo e a glória, com brevidade, porque o Senhor, na terra, usou de palavra breve" (Regra Bulada 9,3-4).
Francisco pregava a penitência e a paz. Em suas pregações, iniciava dizendo: "O Senhor vos dê a paz!" Percorria as cidades e povoados pregando o Reino de Deus. E a pregação dele não tinha a eloqüência da sabedoria humana, mas se baseava na doutrina e na demonstração do Espírito.

Mais tarde, quando já tinha muitos companheiros, pedia para que os frades se entregassem a estudos espirituais, para transmitir ao povo palavras colhidas da boca do Senhor. O pregador deveria orar a Palavra em segredo, para depois transmiti-la. Deve esquentá-la por dentro, para não transmitir palavras frias.

Cumprindo o mandato do Senhor desta maneira, fez com que grandes multidões de homens e mulheres, ricos e pobres, entrassem novamente na regra e na conduta da Igreja. Desta forma, restaurou a Igreja de Jesus.